DIA DA PÁTRIA 2021

Video sobre a manifestaçom do dia da Pátria, com extractos da arenga com a que se finalizou a manifestaçom, na Pç. do 8 de Março, que podedes ler completa a continuaçom:

“Vou contar uma anedota: Quando eu e muita gente da minha geraçom, começamos a militar, quase no século passado, havia uma gente que agiam baixo a palavra de orde de “aqui nom vimos fazer amigos”, em referencia as estruturas organizativas das que fazíamos parte. Muitas lembraredes, outras poderede-lo imaginar -ou se quadra tivestes experiencias similares-, o ambiente irrespirável que ali havia. Esta gente entendia, ou queria fazer-nos entender, e mesmo nós assim o entendiamos, que o processo nom importa, só os fins. Polo tanto, enchíamos a boca com termos grandiloquentes (democracia, feminismo, socialismo, liberdade), mas escornávamo-nos na convivência diária. Parecíamos umha empresa comercial de “ideais libertadores”: acudíamos ao trabalho militante pontualmente, havia chefes, encarregados, competitividade, broncas, bulling; produzíamos ingentes quantidades de publicidade e atos vários, éramos realmente mui produtivas. Tam produtivas que daquela experiência rematamos esgotadas e frustradas. Quando paramos a reflexionar sobre as nossas metas utópicas, sobre a sociedade ideal com a que sonhávamos, soubemos que nom se podia parecer a aquelo que tínhamos entre nós, nom podia guiar-se pola ética, ou a falta dela, que refletiam aquelas relaçoes.

Ao longo deste ciclo da nossa história que está a esmorecer, avançamos no questionamento destas formas clássicas da militância, do dogmatismo com que defendíamos as nossas propostas, do produtivismo que se apoderava dos nossos espaços, das similitudes entre a organizaçom política e a mercantil nos valores que as sostenhem e nos roles que destacam no seu seio. Ao tempo, ao calor da luita política, forom gerando-se uns vínculos, uns compromissos, umas sujetividades, que nom atendiam simplesmente aos cálculos racionais nem as lógicas frias da organizaçom partidária. A palavra companheiro, companheira, foi ficando pequena. Nós deixamos também de acudir ao movimento fazer amigas, xq enxergamos a possibilidade de fazermos irmaos e irmás.

Achamos que conseguimos gerar, por volta de um projeto político, por volta do trabalho político, algo muito mais grande e forte para resistir as investidas do inimigo; algo que nos alenta a falar de irmandade, de comunidade. É este ideal comunitário o que pretendemos alongar para fazer fronte à destruiçom do nosso País, e por isso as reflexions sobre as relaçons humanas que sostenhem o movimento político tenhem para nós um caracter prioritário. O que as fere e o que as fortalece. Imos mover o foco, que temos rígido sempre a iluminar os fins, os objetivos, para alumear os processos e ver que é o que se esconde aí. Xq quizá a revoluçom nom é um fim, e onde se encontra é no processo.

Há umha ladainha mil vezes repetida no independentismo, e no nacionalismo em geral, referente a isto: “Xq nom saímos destas liortas internas que tanto mal nos fam, que esgotam tanta gente… Que mandam tanta gente para casa…”; “nom vou ao 25 xq hai mal rolho, melhor vou-me para a praia…”

Sem laios. As arredistas caracterizamo-nos por fazer fronte ao vitimismo e ser intransigentes coa auto-lamentaçom. Se umha nom pode, turra outra do carro. Temos um problema e imos aborda-lo, e temos ferramentas e temos conhecimento, e temos a ledícia de termos acarinhado, ainda que só fosse com a ponta dos dedos, um outro jeito de estar na política e na luita e na vida.

Agora, que é tempo de seitura, de segar os campos que trabalhamos neste ciclo político que durou um quarto de século, imos malhar o que será o nosso alimento e a semente da seguinte jeira. O nosso alimento político e ético para os próximos anos, e também a semente do pam que nuns anos seituraredes as geraçons mais novas. Esta malha imos faze-la nas AAI, nelas imos separar o grao da palha:

Palha:

Todas as palavras vacias falando de horizontalidade, de unidade, de apertura, de aglutinamento de forças, de incorporaçom das mulheres.

Palha os discursos grandiloquentes que agocham afam de poder, de protagonismo.

A competitividade, o dirigismo.

Palha o dogmatismo, as verdades absolutas que pretendem o aniquilamento das outras posiçoes.

Os egos disfarçados de lideranças.

Palha a política volcada ao espectaculo das redes sociais, opinólogos e lideres de twitter que nom estám hoje nas ruas de Compostela.

Grao:

O trabalho humilde e silencioso que nom procura reconhecimentos nem medalhas.

A responsabilidade, o compromisso, a valentia, a constáncia.

O trabalho amoroso que sostem ao coletivo nos momentos difíceis, frente a represom e frente ao medo.

A capacidade para situar o bem comum por cima do próprio ego.

A capacidade de auto-crítica, de re-invençom. De capilaridade diante das luitas sociais.

Os vínculos reais forjados na luita. A empatia, a solidariedade. O amor a terra. O amor entre irmans.

Acompanhade-nos neste trabalho xq é um trabalho coletivo, e xq estamos num momento de crise brutal no nosso país e temos que asumir a responsabilidade de sementar umha resistência real frente a destruiçom da nossa terra e a usurpaçom da nossa identidade. O que serám as AAI vai ser uma construçom coletiva que necessita agora, já, da participaçom de todas. Necessita da experiencia militante de quem leva anos na luita; necessita do vigor e do alento das jovens e da frescura das recém chegadas; necessita das mulheres para deitar luz sobre estas práticas patriarcais que dinamitam a nossa vida coletiva.

É tempo de compromisso, xq a Galiza, em todas as suas expresions, corre grave risco de ser exterminada. É tempo de organizaçom, de organizar-nos melhor. E esta é basicamente a nossa humilde proposta, que aguardamos contribuades a desenvolver com nós. Umha proposta de alargamento dos valores e da comunidade arredista, que não pode desvincular-se das luitas nas que ela própria se gera. A nossa comunidade fai-se na luita; a nossa comunidade fai-se na defesa da Terra. Aí é, irmás, irmaos, onde nos encontraremos.

Viva Galiza ceive!”

UMHA HISTÓRIA DE LUITA, UM FUTURO NOSSO

O Independentismo sempre acudimos ao 25 de Julho com o ánimo da celebraçom e a vocaçom da luita.

Este ano, festejamos a vitória judicial na Audiência Nacional espanhola e a alegria de estar acompanhadas polas nossas companheiras e companheiros, que mantiveram com toda dignidade, e baixo a ameaça de terríveis condenas, o nosso direito a auto-organizarmo-nos. É para nós um orgulho estar acompanhadas destas pessoas boas e generosas, que escrevem com a melhor das letras a história do nosso povo resistente.

Entendemos que este processo judicial, junto com outros factos acontecidos nos últimos anos, estam inseridos no encerramento de um ciclo e no início de um novo na história do nosso movimento, que abarca o último quarto de século. Com um pé no passado e outro no futuro, convocamos a base social independentista neste dia da Pátria a participar e contribuir neste processo de re-organizaçom e re-formulaçom que chamamos Assembleias Abertas Independentistas.

Partimos co intuito de recolher o melhor de umha tradiçom de compromisso e luita, forjada durante gerações de independentistas, especialmente no que se refere ao último ciclo do nosso movimento. Nestes anos, o Independentismo organizado nas nossas chaves, mália ser um movimento pequeno, atingiu grandes objetivos que queremos celebrar neste 25 de Julho.

Por citar alguns exemplos, fomos quem de imprimir a nossa pegada a todo o nacionalismo, ganhando a simpatia de sectores que nos olhavam com desconfiança e medo. Mostra disso é a assunçom de parte do nosso discurso por estes sectores, as suas incontáveis mostras de solidariedade com os presos e as presas independentistas e a possibilidade de conviver em muitos projetos de construçom nacional. Queremos fugir de leituras partidistas: desde a humildade, afirmamos que isto a quem mais beneficia é a Galiza.

Também podemos falar de grandes projetos de construçom nacional que forom impulsionados por nós (como a criaçom de uma rede de Centros Sociais ao longo da nossa geografia, o impulso a meios de comunicaçom e outras ferramentas para a normalizaçom da norma internacional do galego, etc) e do acertado desenvolvimento de teses nossas como a defesa da Terra, que se converteu ao longo dos anos num dos motores de mobilizaçom social mais potentes do País.

Mas, se quadra, o mais valioso da nossa tradiçom militante, foi a promoçom de uma irmandade alicerçada num compromisso sincero e valente coa defesa da Galiza. A implicaçom vital e espiritual na militáncia deu como resultado umha pequena grande família, cujos vínculos vam além dos acordos estratégicos e do cálculo político. Esta comunidade em resistência é muito mais que umha organizaçom política, e sentimo-lo um dos maiores valores da nossa bagagem.

Aliás, convocamos e acudimos a este 25 de Julho com a alegria revolucionária de quem pretendemos alargar esta comunidade e fortalecer os seus valores. Em primeiro lugar, compre salientar o protagonismo das mulheres independentistas neste processo, que nom imos tolerar que seja acalado para alimentar egos machistas e famintos. Precisamos do feminismo, nom só para fazer do Independentismo um espaço habitável para as companheiras. Trata-se de assentar umha ética militante que nos sirva de couraça frente a um mundo dominado pola rapina moral de um patriarcado na fase culminante, onde o individualismo mais exacerbado, a mercantilizaçom dos afetos e dos cuidados, a liquidaçom dos espaços comunitários e a condiçom líquida dos vínculos etc, ferem de morte qualquer proposta coletiva e revolucionaria que nom saiba defender-se do seu aniquilamento. Frente a isto, nas AAI imos cultivar novos modelos e valores militantes, e sabemos que isto nom é possível sem a participaçom ativa e o protagonismo das mulheres.

Em segundo lugar, recolhemos a crítica tantas vezes repetida das cúpulas dirigentes, da centralizaçom do poder, das estruturas piramidais, para dar início a um processo aberto, descentralizado, organizado desde a base, onde confluam assembleias comarcais autónomas, baixo a consigna do “atua local, pensa nacional”. Achamos necessário, desde a teoria e a praxe, questionar os modelos de organizaçom partidistas e essa forma de entender a política, e sentimo-nos entusiastas de iniciar este debate e este caminho, que sabemos será longo, mas, sem dúbida, apaixonante.

Com umha história de luita às costas, botamos a andar cara um futuro nosso. Orgulha-nos dizer, frente aos discursos grandiloquentes, que imos construir coletivamente: nom temos um horizonte definido, nom sabemos em que porto arribaremos. Por agora, irmaos, irmás, queremos encontrar-nos para celebrar a partida neste dia da nossa Pátria.

Viva Galiza Ceive!